segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Lula deixará déficit externo para sucessor

GUSTAVO PATU
da Folha de S.Paulo, em Brasília

As projeções mais recentes de especialistas e investidores apontam que o ajuste das contas externas do país realizado ao longo do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será integralmente revertido no segundo.

Em outras palavras, Lula deixará para seu sucessor um déficit nas transações de bens e serviços com o exterior semelhante ou superior ao que recebeu do governo Fernando Henrique Cardoso, depois de ter comemorado cinco anos consecutivos de superávits, a mais longa seqüência já registrada pelas estatísticas disponíveis, de 1947 para cá.

De acordo com as previsões mais consensuais do mercado, coletadas em pesquisa do Banco Central, o déficit brasileiro em transações correntes -que inclui comércio, viagens, remessas de lucros e pagamentos de juros- chegará a US$ 31,45 bilhões em 2010, último ano da administração petista. Mesmo com as hipóteses mais otimistas para o crescimento econômico, o valor deverá equivaler a algo entre 1,6% e 1,8% do Produto Interno Bruto.

Trata-se de um patamar quase idêntico ao do final de 2002, quando, em meio a uma crise financeira agravada pela insegurança trazida pela sucessão presidencial, o déficit foi reduzido de 4,2%, no ano anterior, para 1,5% do PIB.

A conta mais importante das transações correntes, a balança comercial, é a que mostra mais claramente as dimensões do ajuste do primeiro mandato de Lula --e as do desajuste esperado no segundo e já em curso.

Com a alta do dólar iniciada em 1999 e intensificada em 2002, o governo Fernando Henrique Cardoso foi encerrado com superávit comercial de US$ 13,1 bilhões, em tendência crescente graças à expansão da economia mundial e à elevação generalizada dos preços de produtos primários. No final do primeiro governo Lula, a balança exibia saldo recorde de US$ 46,5 bilhões, propagandeado na campanha da reeleição como mérito e prova do sucesso da política externa do petista.

O resultado, porém, não resistiu à valorização cambial, que contribuiu para os índices de popularidade do presidente e seu governo. O superávit já caiu no ano passado e, para o mercado, deve ser de apenas US$ 23,1 bilhões neste ano e de US$ 9,6 bilhões em 2010 -e as projeções podem se tornar ainda mais pessimistas.

"Estamos estimando, para 2010, uma balança comercial próxima de zero e um déficit corrente de US$ 50 bilhões, ou 2,5% do PIB", diz Luiz Fernando Lopes, economista do Pátria Investimentos. Nesse cenário, as próximas eleições presidenciais coincidiriam novamente com aumentos do dólar e também dos juros, embora longe das proporções de 2002.

"Vai haver um ajuste da taxa de câmbio", diz, sem prever a data, Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais). Esse ajuste tende a ser suave, em razão do volume confortável das reservas em dólar acumuladas nos últimos anos pelo BC.

Países com déficits em transações correntes dependem de capital externo, ou seja, precisam atrair investimentos ou empréstimos do exterior para evitar a perda de divisas. Quando o mercado considera um déficit alto demais, o risco afugenta o capital. Quando se torna escasso, como em 2002, o dólar sobe, estimula as exportações, inibe as importações e restabelece o equilíbrio das contas.

Isso significa que, em regimes de câmbio flutuante, as distorções se corrigem naturalmente --os ajustes podem ser dolorosos, como mostra o aumento das taxas de pobreza e indigência no segundo governo FHC e no primeiro ano de Lula. A alta do dólar pressiona a inflação e força o aumento dos juros; a economia se retrai e o governo é obrigado a cortar gastos devido à alta de sua dívida.

Vantagens do déficit

Economistas de pensamento liberal tendem a ver vantagens em déficit moderado em transações correntes, que abriria caminho para a entrada de poupança externa no setor produtivo. "Na ausência de elevação da poupança nacional, ou seja, crescimento da renda superior à expansão do consumo, a utilização da poupança externa vem permitindo maior dinamismo dos investimentos", diz documento recente do BC sobre o déficit esperado neste ano, o primeiro sob Lula.

Lopes acha que esse não é o caso brasileiro. "A taxa de investimento está baixa, em 18% do PIB, e o que está crescendo, financiado pelo déficit, é o consumo das famílias e do governo. Isso não vai dar certo", avalia.

A rápida piora das contas neste ano levou o governo, especialmente o Ministério da Fazenda, a estudar medidas para conter o consumo ou desvalorizar a moeda, mas, para o presidente da Sobeet, não há muito a ser feito. "O que dá para fazer é estimular as exportações, para pelo menos mitigar a piora da balança comercial."

Para os dois economistas, o governo Lula já deveria ter feito, isso sim, reformas como a tributária e a trabalhista e medidas para conter seus gastos. Com apenas dois anos pela frente, é improvável que tais iniciativas sejam aprovadas e produzam resultados a tempo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Saída de dólares em julho chega a US$ 2,494 bilhões

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil


Brasília - O saldo da entrada e saída de moeda estrangeira em operações comerciais (exportações e importações) e financeiras (aplicações financeiras e investimentos diretos, entre outros) do Brasil com o exterior ficou negativo em US$ 2,494 bilhões em julho. No mesmo mês do ano passado, houve mais entrada do que saída de moeda estrangeira, o que resultou em um saldo positivo de US$ 11,588 bilhões. Os dados foram divulgados hoje (8) pelo Banco Central (BC).

No acumulado do ano, no entanto, o saldo do fluxo cambial ficou positivo em US$ 12,440 bilhões, bem menor do que os US$ 63,215 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. As operações financeiras foram responsáveis pela saída de US$ 19,747 bilhões, resultado de compras de US$ 260,764 bilhões e vendas de US$ 280,511 bilhões. Nos sete meses do ano passado, o BC registrou entrada de US$ 11,805 bilhões.

Já o fluxo comercial contribuiu com a entrada de US$ 32,187 bilhões nos sete primeiros meses do ano, mas o resultado é inferior aos US$ 51,410 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. As exportações chegaram a US$ 113,368 bilhões e as importações somaram US$ 81,181 bilhões.

Os dados de julho também mostram influência da conta financeira na saída de recursos do país. No mês, a conta financeira registro saldo negativo de US$ 5,130 bilhões, com vendas de US$ 49,813 bilhões e compras de US$ 44,683 bilhões.

Também em julho, as operações de exportações chegaram a US$ 17,090 bilhões e as de importações a US$ 14,453 bilhões, o que resultou no saldo comercial positivo de US$ 2,637 bilhões.